"A história é a filosofia inspirada nos exemplos."
Dionísio de Halicarnasso

sábado, 19 de novembro de 2011

História do Colégio Santa Clara - Parte I - Madre Serafina

Introdução

Madre Serafina de Jesus
A história do Colégio Santa Clara, em Itambacuri - MG, começa na cidade de Forli, Itália, com a criação do Instituto das Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento – ICFMSS, no dia 1º de maio de 1898.

A fundadora, Madre Serafina de Jesus (nascida Francesca Farolfi), tinha sido por mais de 20 anos freira na Congregação das Irmãs de Santa Elisabeth, convento que mantinha um pequeno colégio para moças em Forli. Havia uma tendência na Itália do século XIX de abrir escolas ligadas a ordens religiosas.

Logo que entrou para o convento das franciscanas, Madre Serafina assumiu a direção da escola. A Madre tornou-se conhecida por sua personalidade forte e trato competente na criação e administração de instituições de ensino, sendo muitas vezes chamada para abrir escolas, passando depois sua administração a outrem, após consolidadas.

Como seu objetivo era sobretudo a renovação dos métodos de ensino, nem sempre eram pacíficas as relações entre Madre Serafina e seus superiores, mais ligados aos processos tradicionais.

Assim, anos mais tarde a irmã fundou o Instituto das Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento, com o firme propósito de  continuar a promover mudanças nos modos de ensinar. No dia 14 de maio de 1898 14 freiras professaram seus votos  no novo Instituto, que daí por diante  iniciou seu processo de expansão.

Madre Serafina preferia abrir escolas em regiões pobres, onde houvesse maior necessidade de assistência, mas seu grande sonho era estabelecer comunidades de missão em terras estrangeiras.  Em 1901 este sonho começou a se concretizar, quando 4 freiras partiram para uma missão na Índia.

Em 1907 outras 4 irmãs saíram da Itália para missão em país estrangeiro: o Brasil. Especificamente, em Itambacuri.

Situação no Brasil - o pedido do aldeamento de Itambacuri

Os aldeamentos, como era o caso de Itambacuri na época, normalmente deveriam ter escolas separadas para meninos e meninas, como de resto ocorria com todas as escolas do país.

Dom Joaquim
Quando visitou a região, o bispo de Diamantina – Dom Joaquim Silvério de Souza, sugeriu a frei Serafim que criasse um colégio para meninas, a ser administrado por freiras. Além da sugestão, Dom Joaquim também ofereceu ajuda financeira e logística para o empreendimento.

Para construir o colégio das meninas, os frades obtiveram do Estado a concessão de dois lotes urbanos e três rurais, totalizando uma área aproximada de 760 mil metros quadrados.

No período, frei Serafim trabalhava na construção de uma escola para meninos. Tal obra foi paralisada para que a mão-de-obra fosse utilizada no novo colégio. Em ritmo acelerado, a construção foi concluída no ano de 1906.

Desde a idéia da criação do colégio, Dom Joaquim se articulava para conseguir uma comunidade religiosa que se interessasse pelo projeto. Foi aí que a obra de Madre Serafina apareceu como solução prática e cabível para a questão.

A freira era habilidosa não apenas na criação das escolas, mas também na formação de professores. Além disso, tinha a manifesta vontade de expandir sua obra para missões em regiões carentes, como a esta altura já havia feito com a Índia.

A busca de Dom Joaquim encontrou então uma situação ideal para convidar as freiras do Santíssimo Sacramento a criar o colégio em Itambacuri. O convite foi feito por meio do Núncio Apostólico Dom Júlio Tonti, que escreveu diretamente para a fundadora do Instituto, Madre Serafina, e conseguiu convencê-la da importância do projeto.

Madre Serafina encarou o convite como uma mensagem divina e prontamente aceitou a missão. Restava agora conseguir voluntárias entre as irmãs que pudessem se interessar pelos trabalhos no Brasil.

A Madre teve papel importante também nessa fase, conversando com as irmãs de forma discreta para não influenciar diretamente em uma decisão tão importante quanto a de se deslocar para missões em terras distantes e desconhecidas. Em pouco tempo, apresentaram-se 4 voluntárias.

As 4 freiras receberam instruções e começaram os preparativos para a vinda ao Brasil. Em maio de 1907, estava tudo pronto para a partida.

Irmãs pioneiras – o embarque para o Brasil

As 4 irmãs missionárias
As freiras que se sentiram vocacionadas e aceitaram o desafio da missão foram: Benedita do Redentor (Onesta Braga), Ana dos Inocentes (Malvina Leoni), Francisca dos Santos Estigmas (Santina Gardigli) e Bernardina do Santo Nome de Jesus (Emma Baldassari).

No dia 27 de maio de 1907, as irmãs missionárias saíram da Abadia de Bertinoro, na Itália, em direção ao porto de Gênova, onde chegaram na noite do dia 28. Em Gênova fizeram os últimos preparativos para embarcar para o Brasil, já no dia 30.

Chegado o dia da partida, as missionárias foram acompanhadas por Madre Serafina e Irmã Verônica até o porto, onde embarcaram no navio Umbria, de uma companhia de navegação italiana.

A chegada ao Rio de Janeiro

A viagem do porto de Gênova até o Rio de Janeiro durou 15 dias. Assim, a 15 de junho de 1907 as freiras estavam em solo brasileiro.

No Rio de Janeiro as Irmãs Clarissas foram recebidas por frei José de Castrogiovanni, superior do Convento dos Capuchinhos do Morro do Castelo.

Navio Umbria
As irmãs permaneceram na cidade por 6 dias, ficando hospedadas com as Filhas de São Vicente, na Baía do Botafogo. Elas aproveitaram este tempo para conhecer o Rio de Janeiro e se informar sobre a realidade que encontrariam na missão.

Dentre as autoridades religiosas com quem estiveram no Rio está o cardeal Dom Joaquim Arcoverde Cavalcante (primeiro cardeal da América do Sul), que conversou com as irmãs orientado-as sobre a índole e os costumes do povo brasileiro. Além disso, o Cardeal deu a elas duas sugestões: a primeira, que redigissem um diário para as recordações da missão, e a segunda, que dessem ao colégio a ser fundado o nome de Santa Clara.

Parte brasileira da viagem: Rio de Janeiro, São Mateus, Caravelas, Filadélfia.

No dia 22 de junho retomaram a viagem para Itambacuri. Como não havia estrada de terra e nem ferrovia entre o Rio de Janeiro e o Vale do Mucuri, boa parte do trajeto foi feito pelo mar.

A primeira etapa da viagem foi feita em um navio da companhia Lloyd Brasileiro Mayrink, que seguiu pela costa brasileira até a Bahia, onde seria possível partir de trem para Minas Gerais.

Depois de 4 dias no mar (no dia 26), fizeram a primeira parada em São Mateus, no Espírito Santo. As irmãs aproveitaram para participar da missa na igreja paroquial e no dia seguinte retomaram a viagem. Dessa vez, rumo a Caravelas – Bahia.

Em Caravelas estava sendo comemorada a festa de Nossa Senhora dos Navegantes. O barco então ficou parado por 2 dias em virtude dos festejos. As irmãs não desembarcaram, acompanhando apenas ao que foi possível ver do barco.

A parte final da viagem deu-se no dia 1º de julho, já em Ponta de Areia, Bahia, onde as irmãs pegaram um trem para Filadélfia (hoje Teófilo Otoni).

De Filadélfia a Itambacuri – último trecho

No dia 2 de julho, às 4 da tarde, as irmãs chegaram a Filadélfia, onde algumas pessoas as aguardavam. Ficaram hospedadas na casa do coronel Senna e no dia seguinte cumpririam a última parte da viagem: percorrer a cavalo os 38 quilômetros que separavam Itambacuri de Filadélfia.

As irmãs foram acompanhadas por dois frades e uma comitiva de 30 pessoas. Durante o trajeto muita gente se juntou ao grupo, que chegando a Itambacuri contava quase cem cavaleiros.

O cortejo chegou à cidade no dia 3 de julho de 1907. Os fundadores, frei Serafim e frei Ângelo, aguardavam as missionárias.

As freiras foram recebidas com festa, foguetes, repicar de sinos e banda de música. Conta-se que esta foi a primeira apresentação de banda de música de que se tem registro em Itambacuri.

Além disso, o percurso até a casa que abrigaria as irmãs e o colégio estava enfeitado com flores, bananeiras e bandeirinhas.

Já no dia seguinte as irmãs participaram da primeira missa realizada na capela do pequeno convento, celebrada por frei José de Castrogiovanni.

As missionárias, saídas da Itália, orientadas por Madre Serafina, continuaram a receber saudações de boas-vindas por vários dias. A esperança com a qual foram recebidas partia de uma comunidade cheia de dificuldades, que via nas irmãs uma possibilidade de melhoria nas condições de vida.

Missão estabelecida 

As irmãs vieram ao Brasil com uma missão clara: abrir um colégio para educação de crianças indígenas órfãs e para as crianças filhas dos não-índios que estavam estabelecidos na região. 

Colégio Santa Clara.
A incumbência de organizar os primeiros trabalhos e dirigir o colégio ficou a cargo da superiora irmã Bernardina.

O trabalho das Clarissas Missionárias na educação dava-se da seguinte forma: instrução na catequese, ensino de trabalhos artesanais, e educação escolar sistemática.

Estas atividades, que foram implementadas e aperfeiçoadas no Santa Clara, serão abordadas no próximo texto: História do Colégio Santa Clara – Parte II, que será publicado em breve.

Referências

- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.
- RODRIGUES, Carmem. Missão no Brasil das Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento. Telecart. Belo Horizonte - 2003.


3 comentários:

  1. Muito bom! Deveriam incluir isso no projeto pedagógico das escolas da cidade!

    ResponderExcluir
  2. O Padre Joaquim Silvério de Souza(1859-1933), tornou-se o segundo Bispo de Diamantina, e deixou um grande legado,que tomou forma de livro,chama-se: "Sítios e Personagens"(1930- Imprensa Oficial de Belo Horizonte).Também escreveu pequenos esboços católicos,com participação de Dom Silvério Gomes Pimenta,outra grande figura de nossas Minas Gerais. Parabéns pelo texto.

    ResponderExcluir
  3. Meu querido Colégio, onde estudei, tendo como professoras as Irmãs Ruth, Fabiana, Clara, Maria Elisa, Maria Luísa etc. Saudade desse tempo de juventude.

    ResponderExcluir