"A história é a filosofia inspirada nos exemplos."
Dionísio de Halicarnasso

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Frei Dimas


Dimas de Castro Neves nasceu em Itambacuri no dia 11 de junho de 1934. É filho de Augusta de Castro Neves e Domingos Francisco das Neves.

Ingressou no Seminário no ano de 1950. Enquanto seminarista estudou em Santa Teresa (1950) e Itambacuri (1951-1953) no Seminário Nossa Senhora dos Anjos.

Fez o noviciado em Taubaté - SP, sendo recebido ao hábito com o nome de Frei Adauto de Itambacuri. Professou, porém, como Frei Celestino de Itambacuri. Fez os votos perpétuos em Itambacuri.

Ordenou-se sacerdote no Rio de Janeiro, na Igreja Nossa Senhora das Graças, Paróquia de São Sebastião. Diante da permissão da Ordem no pós-concílio, retornou o nome de batismo. Integrou as Fraternidades:

Rio de Janeiro (1961-1962): curso de pastoral; Itambacuri (1963-1968): vigário cooperador e em 1966-1968, guardião e pároco; Conceição (1969-1974): guardião e pároco, cursando espiritualidade franciscana em Petrópolis, no CEFEPAL, em 1974; Petrópolis (1975-1983): guardião e pároco e, em 1979-1981, diretor dos Estudantes; Rio de Janeiro (1984-1986): Ministro Provincial; Conceição (1987-1995): guardião e pároco e, em 1990-1995, também ecônomo local; Santa Teresa (1995): vigário paroquial;São Gonçalo (1996): guardião e vigário paroquial; Petrópolis (1997-1999): diretor dos estudantes e vigário paroquial.

Em 2011, frei Dimas comemorou 50 anos de vida sacerdotal, quando já se passavam mais de 60 anos de vida religiosa. Abaixo, segue a autobiografia do frei Dimas, escrita em 2012. O texto foi dividido em 2 partes, sendo esta a primeira.

Biografia

Nasci em Itambacuri no ano de 1934, oriundo de família pobre e com muitos problemas. Dos oito filhos eu era o quarto, em ordem decrescente. Desde cedo precisei ajudar aos meus pais. Dividia assim o meu dia entre apanhar lenha no mato (para mamãe cozinhar), e freqüentar a escola.


Quando as aulas eram pela manhã, subia a montanha à tarde; quando as aulas eram à tarde, subia a montanha pela manhã. Assim, conheço todas as montanhas que circundam a cidade.

Aos 12 anos fui trabalhar no armazém de um amigo nosso e, ao mesmo tempo, comecei a aprender com ele o ofício de latoeiro.

Senhor Domingos e Dona Augusta
Mamãe, uma pessoa muito fervorosa, assistia missa todos os dias às 5h30 da manhã, porque não havia missa vespertina. Mesmo a missa sendo celebrada em latim pelo padre, que ficava de costas para o povo, era edificante o fervor de mamãe rezando e comungando.

Influenciado pelo meu irmão Ramiro (frei Agostinho), que já estava no Seminário em Santa Teresa - ES, e porque acompanhava mamãe às celebrações, fui convidado para ser coroinha. 

Assim, a minha convivência com os Padres me proporcionou novos horizontes, e convidado por eles fui preparado para ingressar no Seminário Capuchinho em Santa Teresa, ES.

Fui para o Seminário no final do ano de 1950, onde cursei o primeiro ano ginasial em 1951. Voltei a Itambacuri onde continuei cursando o ginasial durante os anos de 1952 e 1953. Em 24/12/1953 ingressei no Noviciado em Taubaté - SP, recebendo o nome de Frei Adauto de Itambacuri. 

Lá permaneci durante todo o ano de 1954. Aceito na Ordem Capuchinha, emiti os votos temporários em 24 de dezembro de 1954, recebendo o nome de Frei Celestino de Itambacuri, a pedido de uma madrinha que eu ainda nem conhecia (mais tarde apresentaram-na a mim e soube que seu nome era Cordélia).

Frei Dimas com os pais
Voltando a Itambacuri, cursei Filosofia no Seminário Nossa Senhora dos Anjos. Terminados os três anos de votos temporários e o curso de Filosofia, emiti os votos perpétuos em 25/12/1957.

Para melhorar e aperfeiçoar os cursos de Filosofia e Teologia, as Custódias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais se uniram, ficando o curso de Filosofia em Itambacuri e o curso de Teologia em Belo Horizonte.

Em razão desta mudança, no início de 1958 fui transferido para a Capital mineira onde permaneci durante três anos, cursando do primeiro ao terceiro ano de Teologia. Na época os estudos eram realizados nos nossos conventos, com professores capuchinhos. Não só tínhamos muitos feriados, mas também com muita facilidade éramos tirados da sala de aula para ajudarmos a solucionar algumas dificuldades nas áreas de hidráulica, elétrica e outros trabalhos manuais.

Em Itambacuri eu ajudava os mais experientes; em Belo Horizonte passei a ser o mais solicitado para essas tarefas. Até hoje, quando visito o Convento dos Capuchinhos em BH, vou olhar o trabalho que realizei na Igreja, que na época estava em construção.
Com idade canônica para ser ordenado sacerdote um ano antes de terminar os estudos, fui transferido para o Rio de Janeiro no final de 1960 para cursar o quarto ano de Teologia no Seminário São José, no Bairro do Rio Comprido.

No Rio, sendo nosso superior (ou custódio, como dizíamos)  o frei Sixto, um linha dura, eu não tinha nenhum momento de folga ou lazer. Além da freqüência às aulas, no convento eu estava sempre ocupado com trabalhos. Encontrava um pouco de diversão ao lado de Frei José, ouvindo os sucessos musicais nacionais e internacionais após o almoço e à noite. 

Iniciado o ano de 1961, os superiores começaram a pensar no Presbiterado. Dom José Maria Pires, Bispo de Araçuaí, estaria em Itambacuri em visita Pastoral, e poderia fazer os procedimentos para minha Ordenação Sacerdotal.

Assim, foi marcada minha Ordenação para o dia 11/03/1961 e a primeira missa para o dia seguinte, domingo. Esta data consta no fundo do cálice, doado por minha madrinha, Cordélia Monte.

Tudo certo, pensado e aprovado, foi pedido no Seminário São José os documentos de praxe para a transferência da Ordenação do candidato para outro domicilio e outro Bispo ordenante, Dom José Maria Pires.

Com os documentos em mãos embarquei no ônibus da São Geraldo e, pela rodovia Rio Bahia, que não era asfaltada, viajei para Itambacuri. Ali chegando, entreguei a documentação ao superior local, Frei Henrique (cujo nome de batismo era Laudelino) e iniciei o retiro de oito dias. 

Absorto em orações, percebia o barulho e a movimentação de Frei Henrique com seus auxiliares montando o tablado, da mesa de comunhão até o altar mor, para a ordenação. 

Os tais documentos que entreguei a frei Henrique, parece que somente teriam sido entregues ao Bispo na sexta-feira à tarde, na véspera da Ordenação. Verificando os papéis, Dom José Maria Pires não os aceitou, alegando que eles não continham o nome do bispo do Rio comprovando minha idoneidade e, em razão disso, a ordenação não poderia ocorrer.

A partir desta afirmação do bispo travou-se uma grande batalha: de um lado Frei Sixto, Frei Cassiano, Frei Henrique e outros mais; do outro lado Dom José. 

Com argumentos dos mais renomados canonistas do passado e do presente, tentaram convencer ao Bispo de que a presença do Frei Sixto, meu superior, seria o suficiente para atestar minha idoneidade de modo a que minha ordenação pudesse ocorrer.

Não aceitando os argumentos, o Bispo foi dormir à meia-noite, deixando a batata quente nas mãos do superior. Nós, Capuchinhos, não dormimos nada. Às 5 horas da manhã do dia seguinte, dia da ordenação, o Bispo estava de pé querendo saber das providências tomadas. 

Como não foi possível obter o documento que o Bispo queria, devido à distância e a precariedade dos meios de comunicação entre Itambacuri e Rio, o Bispo bateu o martelo dizendo que não haveria ordenação. 

(Continua na próxima postagem)

Um comentário:

  1. Ah, Frei Dimas...
    Quanta alegria!
    Além de conhecer suas missas, suas músicas de antes da benção final, sua companhia no EAC e EJC e ECC, agora posso conhecer sua caminhada.
    Obrigada!

    ResponderExcluir